segunda-feira, 24 de abril de 2017

Rincão do inferno 1/2

Do inferno ao paraíso... é assim que começo descrevendo essa que foi uma das aventuras mais arriscadas que já fiz em meus 40 anos de vida... inferno para chegar, paraíso para se estar!!!

Foi através do Facebook que tomei conhecimento do Rincão do Inferno. O vi em uma foto de capa, em um perfil de alguém aqui do RS. No mesmo instante me veio a necessidade de acampar naquele local mágico e desbravar o leito do Rio Camaquã.

Realizei inúmeras pesquisas na internet e com a pouca informação que consegui já me considerei apto para essa aventura (ledo engano!!!). O local fica próximo a cidade de Bagé (cerca de 3 a 4 horas de carro da cidade em que estou), cortado pelo Rio Camaquã, em uma formação rochosa única. Trata-se de uma antiga vila quilombola (aquele local em que os escravos africanos procuravam abrigo quando fugiam das fazendas, na época imperial) muito bem preservada.



Melhor rota para o Rincão do Inferno saindo de Rio Grande. No trevo (último ponto da BR 293) deve-se seguir a direita e depois de 25 minutos o sinal de internet volta (não 3G ou 4G) e já é possível utilizar o GPS do celular,


Aproveitei o sábado e domingo que teria de folga no trabalho, aluguei um carro (prefiro ir de transporte público mas com o tempo curto para essa aventura não quis arriscar o retorno) e já com roteiro definido e mochila arrumada peguei estrada. Até Pelotas (sai de Rio Grande) a viagem foi maravilhosa, mas após esse ponto começou uma chuva terrível até quase em Bagé. Esse foi o primeiro de três momentos que quase peguei o caminho de volta, desistindo da aventura, pois acampar na chuva e conhecer o local debaixo de muita água, relâmpago e trovões não seria nada excitante.


Até um pouco depois de Pelotas foi possível parar na estrada e tirar algumas fotos da linda paisagem desse relevo plano característico dos pampas gaúcho. Depois desse trecho encontrei uma forte chuva até  quase em Bagé: O primeiro dos três momentos que quase me fizeram desistir.


Chegando próximo do trevo de Bagé a chuva parou e no AccuWeather a previsão era que no dia seguinte o tempo estaria bom, mas olhando para o céu era difícil de acreditar que o mundo não acabaria em água pelos próximos dias. Resolvi confiar no sistema que nunca me deu previsões equivocadas e continuei. Tive que parar em um comércio a direita da BR 293, logo após o posto da Polícia Rodoviária e do trevo (sentido Rio Grande -> Bagé) e novamente pedir informações com o mapa em mãos, pois as placas do trevo me passavam uma orientações errada e contraria ao Maps. Lá fui  informado  que o Google Maps estava certo:

- Bah! Tem que pegar o sentido da direita no trevo antes de Bagé.

Foi o que me informou o simpático proprietário do estabelecimento. Vale destacar que nessa região não pega internet e é importante ter o mapa impresso, que foi o meu caso.


Bem, subindo a BR 153, com cerca de 30 minutos, chegará um ponto em que você irá manobrar para a esquerda, entrando em uma estrada de chão... e é aí que a aventura começa a ficar nível extremo. Nessa estrada de chão errei o sentido por diversas vezes e com muita sorte encontrei alguém que me guiou até uma outra estrada de chão. Essa segunda estrada de chão é muito ruim e se você for de carro baixo não se arrisque a andar de terceira ou quarta marcha... eu arrisquei e tive um pneu furado pelas inúmeras pedras que tomam a estrada em toda a sua extensão (o pneu da frente quase estourou também... já pensou eu com dois pneus furados no meio do nada e com uma tempestade em cima da minha cabeça pronta para cair!!!???).

 
Primeiro trecho da estrada já mostra o que está por vir. Todo cuidado é pouco!!!


 
Esse casal no carro da frente foi me guiando até a placa que indica a entrada para o Rincão.


 
Nesse ponto é preciso entrar a esquerda e começar a maratona de abrir e fechar porteiras.


 
Pequena amostra do caminho de pedras que percorri. Essa enorme estrada de pedregulhos é apenas o começo de uma longa estrada.


Mar calmo não faz bom marinheiro!!!



O caminho reserva paisagens deslumbrantes!!!




Troquei o pneu furado pelo estepe provisório rapidamente (aquele fino igual a um pneu de moto e com a informação que você não pode andar a mais de 80 km) e esse foi o segundo momento em que pensei em retornar/desistir. Embora o AccuWeather disse-se que não, havia uma chuva terrível esperando o momento certo para vir de uma vez só e aí meu amigo eu ficaria preso naquele local por mais uns dois diasou mais pois o meu carro era baixo (Onix) e estava com aquele pneu de moto e outro querendo estourar.

Pesei a situação e achei mais conveniente encontrar o Rincão (sairia de lá só de noite e encontrar o Rincão levaria algumas horas apenas) e lá procurar ajuda dos moradores e se chovesse ficaria por lá até o tempo/estrada estarem favoráveis para o meu retorno. Esse foi outro problema pois há uma terceira estrada de chão com uma placa "Proibido a entrada" que só fiquei sabendo que esse era o caminho conforme orientação dos nativos. Até descobrir isso segui por diversos caminhos errados, em que a estrada e a mata se tornavam uma coisa só... levei cerda de 4 a 6 horas, abrindo e fechando incontáveis porteiras (com um sistema rústico que só tendo braço forte para abrir e fechar).


 
Essa placa engana muito quem não conhece a região e é o caminho que dá para o Rincão do Inferno. Passei por ela na primeira vez acreditando não ser o caminho e depois precisei ir e voltar para tornar a encontrá-la.


 
Quando avistei essa formação comecei a ter a sensação que estava no caminho certo.


 
Nesse ponto há uma placa indicando que você deve seguir a esquerda. Alívio para quem já estava desesperado na tentativa de encontrar antes do anoitecer, do estepe estourar ou da chuva chegar.




Por fim cheguei a um ponto em que era possível ver a casa dos famosos moradores do Rincão: Dona Onélia, seu Bique e seu irmão... mas ainda falta uma boa estrada de chão em uma descida muito íngreme e com enormes pedras. Fiquei com receio que o Onix 1.0, com estepe fino, não conseguiria e escolhi um local com uma vista privilegiada para estacioná-lo e por lá passaria a noite, visitando o Rincão no outro dia.



Local escolhido para estacionar o carro e passar a noite.



Local escolhido para estacionar o carro e passar a noite.


Havia dois carros de escaladores lá estacionados que tiveram o mesmo receio que o meu em arriscar os seus veículos pelo resto da "estrada". Foi quando tentando montar a barraca próximo ao carro começou a chover fino e foi a terceira e última vez que pensei em voltar, mas como já estava tarde e o caminho seria impossível de ser seguido a noite debaixo de chuva desisti de desistir pela última vez.

Optei pela regra de sobrevivência básica: na dificuldade procure sempre o jeito mais rápido de resolver o seu problema... e foi assim que joguei a barraca de volta no porta-malas do carro e decidi dormir dentro dele, seguindo no dia seguinte para a casa dos moradores do Rincão...

Continua:

Rincão do Inferno - 2/2

Veja o vídeo dessa aventura:



domingo, 23 de abril de 2017

Rincão do Inferno - 2/2

Na manhã seguinte tive a grande surpresa de um dia nublado, mas sem chuva (a chuva caiu muito devagar durante a noite, quase em forma de sereno) e predisposto ao sol no final da tarde. Sim, a previsão do AccuWeather estava corretíssima novamente, vale destacar, as suas previsões nunca foram equivocadas comigo (os únicos erros que já encontrei nesse sistema que acompanha o android são chuvas que atrasam ou antecipam em cerca de minutos ou poucas horas).




Local onde estacionei o carro e passei a noite (ponto verde) e o trajeto feito a pé até a entrada do Rincão do Inferno (ponto vermelho).







Localização do local em que o carro ficou estacionado (ponto verde), Rincão do Inferno (ponto vermelho) em relação a Cidade de Bagé e BR 153.


Abandonei o carro, troquei de roupa (fazia bastante frio), comi alguma coisa e me embrenhei no mato afim de contemplar a paisagem... e que paisagem. Depois de muitos "selfies" fui seguindo o caminho que leva ao antigo quilombo e hoje atualmente residência do seu Bique, Dona Onélia e seu irmão.






AccuWeather extremamente confiável. Dia bom para muitos selfies!!!


Chegando lá encontrei escaladores da cidade de Cachoeirinha que estavam abrindo diversas vias de escalada no local, cumprimentei todos e segui para a casa do seu Bique e a famosa Dona Onélia... lá paguei um valor de R$20,00 e o seu Bique me economizou um precioso tempo me mostrando os atalhos que levam ao principais pontos do lugar (grutas, margem do rio, pedras, locais para camping e etc...).



Lindo cavalo quarto de milha do irmão do seu bique!!!


Seu bique me guiando foi uma economia de tempo importante!!!












Lindas imagens de um lugar deslumbrante... certeza que preciso retornar!!!


Mas o mais legal estava por vir... fui convidado para almoçar um arroz de carreteiro com um feijão delicioso e super bem temperado que eles cultivam no local. Antes preparei um chimarrão na minha cuia com uma erva nativa que comprei em Pelotas e conversamos por horas. Lá tomei conhecimento das pessoas de vários continentes que já visitaram o local (há um mural onde os visitantes deixam algumas fotos que lá tiraram), o mesmo foi inclusive tema de vários filmes, documentários e até enredo de escola de samba campeã em Bagé.








"Andar por terras distantes e conversar com diversas pessoas torna os homens ponderados."
(Miguel de Cervantes)


A minha única frustração foi não ter conseguido acampar na beira do rio Camaquã, como inicialmente pretendia, e ter ficado mais tempo pois estava muito preocupado com o meu retorno (teria que trabalhar no dia seguinte). Voltei com muita calma, preservando ao máximo os pneus e não passando da 2º marcha. Consegui uma borracharia no caminho em que foi possível trocar o pneu e voltar para casa em uma velocidade digna... mas sempre com prudência.




Pegando a estrada de volta!!!


Resumo da ópera: O local é lindo, os anfitriões são espetaculares e ficou a sensação de quero mais. Certamente voltarei para acampar na margem do Camaquã e levar toda a família para contemplar o lugar e escutar as histórias da Dona Onélia e Seu Bique (comprei dela um ótimo doce chamado ambrosia e muito popular aqui no RS... comi o pote todo sozinho em menos de 2 dias).

Abraços e até a próxima aventura!!! 



Vídeo com imagens dessa aventura!!!


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