Diante da situação do covid, com voos internacionais suspenso em muitos países e também uma cirurgia recente que fiz no braço direito (impossibilitado de exercita-lo por 4 meses), resolvi fazer um roteiro mais clássico de turismo mas sem perder a ideologia do montanhismo.
Sim! Montanhismo é muito mais do que escalar rocha, alcançar cumes ou descer a montanha de ski. É toda uma cultura que envolve gastronomia, harmonização, música, moda, arte, arquitetura e etc.
Nesse sentido, a serra gaúcha certamente é uma das regiões do Brasil com mais afinidade com todo esse estilo de vida, destacando-se a cidade de Bento Gonçalves dentre tantas outras.
Bento, como é carinhosamente chamada, além ser conhecida pela oferta de uma completa gama de atividades radicais, é também um centro de alta gastronomia regional/nacional, indo da cozinha colonial a sofisticada.
Entretanto, o principal destaque dessa cidade é a sua produção de vinho: a maior produtora dessa bebida em nível nacional. Há um destaque para a produção da cepa merlot, inclusive com premiação internacional.
O vinho é uma bebida que, de tão complexa, assume "status" cultural próprio, associando-se não apenas a ideologia do montanhismo, mas também a diversas outras culturas e tradições.
Local definido, roteiro pronto e reservas em mãos, partimos da praia de Rainha do Mar (litoral gaúcho onde passamos alguns dias) em direção a Bento Gonçalves (~3 horas). Nesse passeio eu, meu filho e minha namorada, chegamos a pousada localizada no coração da cidade, com reserva para 5 pernoites.
Logo ao chegar, guardamos as malas e partimos para conhecer o centro da cidade. Fomos a pé em um caminho cheio de ladeiras, lombas e morros (bom exercício para as pernas). Visitamos as duas igrejas principais (bela arquitetura em ambas), o chafariz de vinho (na realidade é água com corante), os dois únicos shoppings e algumas praças.
Ao cair da noite resolvemos ir jantar fondue no sofisticado Chamonix. O lugar é super aconchegante, com músicas francesas e italianas ao fundo, comida muito boa (em boa quantidade também) e serviço excepcional... mas prepare o seu bolso. Os valores são exageradamente alto (se quiser economizar a dica é dar um pulo em Gramado, cidade vizinha, que lá há opções muito mais baratas de fondue)... aliás, comer em Bento é algo que pode sair muito, mas muito caro mesmo se você não pesquisar previamente as opções.
Há excelentes opções por menos da metade do preço e com igual (ou até superior) qualidade. Um jantar ou almoço colonial pode variar de R$50,00 a R$100,00/pessoa (alguns casos até mais). Não vá por impulso (a não ser que esteja podendo) ou contenha quem assim o faz pois, a intenção é curtir a cidade e não ficar mais pobre (risos).
Esta discrepância de valores e super valorização de alguns serviços/bens de consumo é o ponto fraco não apenas de Bento, mas também de toda a região da Serra Gaúcha. Pesquise, pesquise e pesquise...
No dia seguinte acordamos, tomamos café e logo fomos conhecer as vinícolas. Começamos pela Aurora, que possui uma sede logo no Centro da Cidade. Chegamos sem agendamento e após aguardar cerca de 10 minutos a guia veio nos receber para então começarmos o passeio.
Fomos apresentados ao interior da empresa, aos processos de vinificação, um pouco de sua história, seguimos para uma ótima degustação e finalizando na loja da fábrica. Tudo sem custo algum... exceto os vinhos e sucos que compramos. Interessante é que a Vinícola Aurora é a única em forma de cooperativa ou seja, não é de uma única família e sim de várias.
Como estávamos eu e o meu filho bebendo, a minha companheira Paula ficou de motorista pois ela não bebe (para nossa sorte he, he, he).
Então iniciamos a nossa maratona de degustação, querendo experimentar todas as vinícolas em um só dia rsss. Íamos parando nas vinícolas pelo caminho, sem programação ou agendamento. Nos deparamos com uma sequência de ótimas vinícolas: Peculiare, Marco Luigi, Terragnolo, Titton e por fim Dom Candido. Depois de seis degustações em um único dia já estávamos "borrachos" e não conseguíamos mais diferenciar os vinhos da última vinícola visitada (a atendente disse que havíamos batido o recorde pois não conhecia quem havia visitado mais de 4 vinícolas no mesmo dia).
Os vinhos que gostei mais nesse dia foram (em ordem decrescente): Terragnolo, Peculiare, Marco Luigi, Aurora, Dom Candido e Titton. Os melhores atendimentos para degustação ficaram para (em ordem decrescente): Aurora, Marco Luigi, Dom Candido, Peculiare, Titton e Terragnolo.
Finalizamos almoçando um belo rodízio de pizzas no Pizza Place. O lugar é muito bonito, agradável, grande variedade de pizzas e tudo por um preço justo (digo não abusivo). Sugestão é chegar cedo (o que fizemos) pois depois há fila de espera.
Dia seguinte, de café tomado, seguimos direto para a Vinícola Miolo. A visita é cobrada e dá direito a um passeio guiado, finalizando com degustação e visita a loja da fabrica.
Começamos cedo e como a minha companheira não bebe (mas teve que pagar assim mesmo), tivemos de revezar, eu e o meu filho, a sua taça de degustação (não há valor diferenciado para pessoas que não bebem).
Como a aquisição dos ingressos na Miolo te possibilitam descontos na loja própria deles, compramos alguns vinhos com um ótimo preço (o desconto não serve para sucos e souvenires... outra bola fora).
De lá saímos e fomos parar na Vinícola Michele Carraro onde pagamos a metade do valor da Miolo para uma degustação que foi duas vezes maior. Sim, tomamos tantos vinhos que não tínhamos mais paladar para uma terceira degustação naquele dia. Tá aí uma degustação que você pode reservar apenas um dia para fazer pois eles não economizam na hora de te servir.
Vinícola Michele Carraro.
Seguimos a procura de um lugar bom e barato para almoçarmos e encontramos o Zandonai. A comida é muito simples mas o preço compensa (não queria pagar R$100,00 por pessoa naquele dia, o Chamonix me descapitalizou rsss). Dali, já cansados, seguimos para a pousada descansar e dar uma folga para o fígado.
A noite jantamos no restaurante Devereda. Indico muito esse lugar pois a comida é muito boa e o preço é imbatível. Além disso o atendimento impecável e ambiente maravilhoso. Me arrependi de não ter conhecido antes... certamente o melhor entre os melhores de Bento. Lá escolhi um merlot da vinícola Batistello e esse harmonizou de forma singular ao rodízio colonial servido, farto em carnes, massa, polenta, batatas e queijo.
Voltamos para a pousada satisfeitos e já pensando no dia seguinte.
Naquela que seria o nosso último dia em Bento (no dia seguinte tomaríamos o café da manhã e faríamos o check out para írmos embora). Decidimos fazer o caminho de pedras, visitando antes a Batistello para adquirir algumas garrafas daquele maravilhoso merlot da noite anterior.
Fomos muito bem atendidos na Batistello. Comprei um merlot e ancelota (casta que conheci no vale dos vinhedos e gostei muito) e seguimos para o caminho de pedras... mas então fomos supreendidos por uma pane no carro. Bah (como dizem os gaúchos quando surpreendidos), problema no carro na estrada do vale dos vinhedos "não é brinquedo". Devido a esse imprevisto tivemos de antecipar o nosso retorno a Porto Alegre... mas tudo valeu muito a pena.
Certamente esse é um passeio para se fazer sempre... iria voltar!!! Abraços e até o próximo post.
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"Resumo da ópera:"
A estadia em Bento me fez ver a cidade de uma maneira mais real e menos utópica. É uma cidade muito pequena mas demasiadamente desenvolvida para o seu tamanho. Possui empresas de nível nacional e que devem ter o seu faturamento na ordem dos milhões. Por essa razão a cidade possui um comércio muito movimentado e com intenso fluxo de caminhões.
A grande sacada foi a forte indústria da uva e vinho ter transformado a região em local de turismo enófilo-gastronômico de alta qualidade/sofisticação. Isso certamente contribui positivamente para a qualidade de vida dos moradores da região. Vale ressaltar também o turismo de aventura que se vê em raras cidades do Brasil (clique aqui).
O povo de uma maneira geral é educado e a cidade muito limpa e organizada. Para uma visita deve-se pesquisar bem antes pois há uma diferença de valores enormes entre os serviços.
Se for conhecer, vá de carro. A dica é: alugue um carro na capital Porto Alegre caso venha de avião. Não deixe para alugar lá pois só há duas locadoras na cidade e com poucos veículos.
No mais é só curtir o passeio que vale muito, mas muito mesmo!!!
Abraço e até a próxima.