Quando recebi o convite do Blog Amigo da Montanha para escrever sobre segurança na escalada,
pensei sobre a amplitude desse assunto e logo surgiu o questionamento de qual procedimento
deveria falar. Depois de algum tempo e de algumas ponderações, concluí ser
mais eficiente, inicialmente, escrever de uma forma mais introdutiva e em momento
posterior aprofundar-me em um assunto específico. Nesse sentido, lembrei uma
frase que sempre digo: Subir paredes até cabrito sobe. Uso essa frase como
trocadilho, pois há muitos escaladores que
acham que a escalada é só cadenar vias,
e não dão a mínima para as técnicas de segurança.
Escaladores já em segurança presos pela "solteira" em um parada (foto da web).
Nesses
anos de escaladas aprendi a identificar supostos candidatos a acidentes,
principalmente nos campos escolas. A técnica que uso para identificar esses
escaladores é bem simples. Quando numa mesma cordada, vejo o jogo dos 7 erros,
que divido da seguinte maneira: até 3
erros na mesma cordada eles tem um chance mínima de acidente, mas quando na
mesmo cordada percebo mais de 3 erros esse grupo certamente terá problemas.
Os “erros”mais
comuns que observo nos campos escolas e em escaladas de múltipla enfiadas são: não
fazer o duplo check-in, seg com gri-gri errado,
mosquetão que liga o gri-gri ou ATC a cadeirinha não conectado ao local
correto, não colocar as expressas viradas para o lado certo, não colocar expressas
longas abaixo de tetos, fazer top rope com duas expressas na parada, não fazer um nó na ponta da corda, indiferentemente
se tens o prévio conhecimento de que a corda vai chegar ao chão, não fazer o rappel seguro sempre, entre muitos
outros, infelizmente, corriqueiros erros.
Sabendo
que todo acidente e incidentes são decorrente de uma sucessão de erros, faço essa
tabela do jogo dos 7 erros. Mas acredito que o pior é você escutar de um
escalador: eu faço assim (errado) e nunca deu nada.
Treinamento de técnicas de segurança em escalada (foto da web).
Talvez você esteja
pensado, porque fazer um no na ponta da
corda mesmo sabendo que ela vai chegar no chão? E fazer o prusik para rapelar
sempre? Simples, quando você faz alguma
coisa sempre, esse movimento fica automático,
isso se chama memória muscular. Dessa
forma, quando você estiver em uma escalada de mais comprometimento, onde você vai
rapelar a noite com chuva, cansado, depois de 10 horas de atividade, por
exemplo, esses procedimentos vão ser feitos automaticamente, de modo que não
serão esquecidos. Em relação a estes erros comuns, mais adiante, retornarei a
falar sobre memória muscular .
Entretanto,
é fundamental pontuar que para se evitar acidentes na escalada a melhor estratégia
é a prevenção. Esta deve ser feita através de cursos básicos de escaladas e de reciclagens. Nesses anos que estou no esporte, percebi que poucos
escaladores tem um curso de escaladas, pois aprenderam com um amigo que aprendeu
com outro amigo. Desse jeito, temos
outro jogo além do mencionado jogo dos sete erros, o telefone sem fio ao qual informação transmitida sempre chega distorcida
no final.
Tope rope para treinamento de técnicas de segurança e aderência (foto da web).
O essencial é depois de um curso básico de escalada fazer um curso de
resgate, auto resgate em escalada e por último um curso de primeiros socorros em
áreas remotas. Lembra da referida memória muscular? Então, as técnicas de segurança de escalada você vai praticar todos os finais
de semanas quando for escalar, mas e as técnicas de auto resgate, resgate e os
procedimentos de primeiros socorros? Em relação a isto, nota-se então a necessidade de junto ao seu parceiro
de escalada deixar aquele projeto de
lado um pouco, esquecer aquela cadena e ir treinar um dia somente as
técnicas de resgate, auto resgate e junto os procedimentos de primeiros
socorros.
Tal dia reservado para esse treinamento mostra-se necessário, em situação real, podendo, por exemplo, ser em noite chuvosa com seu parceiro na
parede em estado grave. Você não vai lembrar de nada, caso só tenha visto essas
técnicas no dia do curso que você fez já faz dois anos. Portanto, ressalto a importância
de três em três meses reservar um dia para treinar esses procedimentos.
Lembre-se,
subir parede até cabrito sobe, mas eles não precisam fazer um nó e muito menos saber as
técnicas de resgate.
Boa
escaladas a todos com segurança e bons ventos!
Fabiano
Santos.
Fabiano escala por mais de 20 anos, já tendo frequentando vias em diversos estados do Brasil, Argentina e Chile. É formado em educação física e além de montanhista também dá aulas de judô na Grande Porto Alegre - RS.