sábado, 15 de julho de 2017

Segurança na Escalada. Você se preocupa o bastante?

Quando recebi o convite do Blog Amigo da Montanha para escrever sobre segurança na escalada, pensei sobre a amplitude desse assunto e logo surgiu o questionamento de qual procedimento deveria falar. Depois de algum tempo e de algumas ponderações, concluí ser mais eficiente, inicialmente, escrever de uma forma mais introdutiva e em momento posterior aprofundar-me em um assunto específico. Nesse sentido, lembrei uma frase que sempre digo: Subir paredes até cabrito sobe. Uso essa frase como trocadilho,  pois há muitos escaladores que acham que a escalada é só  cadenar vias, e não dão a mínima para as técnicas de segurança.


Escaladores já em segurança presos pela "solteira" em um parada (foto da web).


Nesses anos de escaladas aprendi a identificar supostos candidatos a acidentes, principalmente nos campos escolas. A técnica que uso para identificar esses escaladores é bem simples. Quando numa mesma cordada, vejo o jogo dos 7 erros, que divido da seguinte maneira: até 3 erros na mesma cordada eles tem um chance mínima de acidente, mas quando na mesmo cordada percebo mais de 3 erros esse grupo certamente terá problemas.

Os “erros”mais comuns que observo nos campos escolas e em escaladas de múltipla enfiadas são: não fazer o duplo check-in, seg com gri-gri errado,  mosquetão que liga o gri-gri ou ATC a cadeirinha não conectado ao local correto, não colocar as expressas viradas para o lado certo, não colocar expressas longas abaixo de tetos, fazer top rope com duas expressas na parada, não fazer um nó na ponta da corda, indiferentemente se tens o prévio conhecimento de que a corda vai chegar ao chão,  não fazer o rappel seguro sempre, entre muitos outros, infelizmente, corriqueiros erros.

Sabendo que todo acidente e incidentes são decorrente de uma sucessão de erros, faço essa tabela do jogo dos 7 erros. Mas acredito que o pior é você escutar de um escalador: eu faço assim (errado) e nunca deu nada. 



Treinamento de técnicas de segurança em escalada (foto da web).


Talvez você esteja pensado, porque fazer um no na ponta da corda mesmo sabendo que ela vai chegar no chão? E fazer o prusik para rapelar sempre? Simples, quando você faz alguma coisa sempre, esse movimento fica automático,  isso se chama memória muscular.  Dessa forma, quando você estiver em uma escalada de mais comprometimento, onde você vai rapelar a noite com chuva, cansado, depois de 10 horas de atividade, por exemplo, esses procedimentos vão ser feitos automaticamente, de modo que não serão esquecidos. Em relação a estes erros comuns, mais adiante, retornarei a falar sobre memória muscular .

Entretanto, é fundamental pontuar que para se evitar acidentes na escalada a melhor estratégia é a prevenção. Esta deve ser feita através de cursos básicos de escaladas e de reciclagens.  Nesses anos que estou no esporte, percebi que poucos escaladores tem um curso de escaladas, pois aprenderam com um amigo que aprendeu com outro amigo. Desse  jeito, temos outro jogo além do mencionado jogo dos sete erros, o telefone sem fio ao qual  informação transmitida sempre chega distorcida no final. 


Tope rope para treinamento de técnicas de segurança e aderência (foto da web).


O essencial é depois de um curso básico de escalada fazer um curso de resgate, auto resgate em escalada e por último um curso de primeiros socorros em áreas remotas. Lembra da referida memória muscular?  Então, as técnicas de segurança de escalada você vai praticar todos os finais de semanas quando for escalar, mas e as técnicas de auto resgate, resgate e os procedimentos de primeiros socorros? Em relação a isto, nota-se  então a necessidade de junto ao seu parceiro de escalada  deixar aquele projeto de lado um pouco, esquecer  aquela cadena e ir treinar um dia somente as técnicas de resgate, auto resgate e junto os procedimentos de primeiros socorros. 

Tal dia reservado para esse treinamento mostra-se necessário, em situação real, podendo, por exemplo, ser em noite chuvosa com seu parceiro na parede em estado grave. Você não vai lembrar de nada, caso só tenha visto essas técnicas no dia do curso que você fez já faz dois anos. Portanto, ressalto a importância de três em três meses reservar um dia para treinar esses procedimentos.

Lembre-se, subir parede até cabrito sobe, mas eles não precisam fazer um nó e muito menos saber as técnicas de resgate.

Boa escaladas a todos com segurança e bons ventos!

Fabiano Santos.
Fabiano escala por mais de 20 anos, já tendo frequentando vias em diversos estados do Brasil, Argentina e Chile. É formado em educação física e além de montanhista também dá aulas de judô na Grande Porto Alegre - RS.

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