terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

Pico Paraná (1877m). O que você precisa saber antes de ir!!!

O verão nunca é uma boa estação para subir uma montanha. É uma estação chuvosa e com perigo iminente de raios. Entretanto, com a vinda do meu filho, que todo ano vem visitar o paizão dele, essa seria a única data para termos o nosso momento em uma aventura outdoor. A escolha foi uma montanha que há muito tempo eu  queria conhecer: o Pico Paraná (a maior da Região Sul do Brasil).

Aqui no sul chove muito nesse período e o risco de alerta laranja para tempestade comum nessa época ora se torna vermelho com frequência. Acompanhando a previsão do tempo quase que diariamente eis que nos surge uma janela de três dias de sol para o Pico Paraná. Essa montanha é linda, base de treino no Brasil para grandes ascensões. Embora não seja muito alta (1877m) ela é difícil, exige muito esforço físico e paradas pelo caminho para pernoitar.

Ainda estávamos um pouco debilitados devido a uma forte gripe que nos acometeu, mas isso não foi suficiente para nos fazer desistir. Preparamos rapidamente as mochilas de véspera e no outro dia partimos (23/01/22) rumo a Curitiba. 

Como saímos quase as 10h da manhã e pegamos um congestionamento horrível na estrada, chegamos na capital paranaense por volta das 19h. Fizemos a reserva, ainda no caminho, de um hotel e lá pernoitamos na chegada a cidade. Dia seguinte (24/01/22) tomamos café e partimos em direção Fazenda Pico Paraná onde está o local de camping e início da trilha que leva ao cume.

A Fazenda Pico Paraná é uma propriedade particular que dá acesso ao Pico Paraná e montanhas do entorno. É um lugar muito legal, o proprietário é uma pessoa muito simpática e hospitaleira. O preço é muito justo... pagamos R$10,00 por pessoa pelo direito de acampar por 48 horas, com chuveiro elétrico e banheiro. Tem uma cantina que serve pastel e algumas bebidas gelada. Deixarei o contato do responsável e informação de como chegar no final do post.

Chegamos por volta das 10 horas, nos apresentamos, recebemos as orientações, interagimos um pouco com o pessoal do camping e seguimos direto para o Pico Paraná (PP). Legal é que a fazenda possui inúmeros cachorros e eles se revezam escolhendo quem irão acompanhar durante TODA trilha. Sim, o que nos acompanhou (um belo cãozinho de porte médio de cor preta) as vezes sumia na trilha para nos encontrar mais na frente (principalmente nos pontos de parada) e dormiu ao lado da nossa barraca (incrível). Claro que esse serviço de guia tinha um preço que era dividir a nossa comida com ele!!! Nada mais que justo uma vez que ele ia "limpando" o caminho para nós.




Foto 1: um cogumelo gigante pelo caminho... trilha com muitas surpresas. Foto 2: Eu e o meu filho fazendo uma das muitas paradas para descanso. Foto 3: a parte boa da trilha.


A subida começa íngreme e com aspecto de uma trilha normal... logo começam a surgir raízes, pedras, valas, cordas e outras dificuldades extremas que exigem noções de escalada e rapel. A medida que você vai progredindo a dificuldade vai aumentando e o caminho oscila entre descidas e subidas o tempo todo. Quando você pensa que não tem mais como piorar... a coisa piora, e muito.


Subida extenuante mas que as vezes lhe permite o prazer de uma visão magnífica como essa.


Existem dois pontos para descanso que são aqueles em que você precisa fazer a escolha de qual será a sua opção de trilha. Um primeiro ponto em que ou você segue no sentido Itapiroca/PP ou no sentido Caratuva/Taipabuçu/Ferraria. Escolhendo o sentido Itapiroca/PP. Após esse trevo você seguirá por caminhos tortuosos até encontrar outro trevo em que você fará a escolha entre o Pico Paraná ou Itapiroca. Seguindo pelo PP você andará muito, mas muito mesmo, até chegar naquilo que eu considerei o mais difícil de toda a ida: a escalada em dois lances de uma via ferrata. Já estávamos super cansados e ter que subir por essa via, sem segurança, com mochila e barraca nas costas foi o auge do sofrimento. Superando isso você irá encontrar água e logo após o acampamento 1 (A1).



Primeiro ponto de bifurcação. Aqui e mais adiante é preciso escolher o caminho que se pretende seguir de acordo com a montanha desejada.


Já era algo depois das 16 horas e nós já estávamos muito cansados. A ambição de acampar no acampamento 2 (A2) era o que nos motivava mas a questão era que estava ficando tarde e não tínhamos a menor ideia de quanto faltava para alcançarmos o A2. A solução foi acampar na trilha mesmo, entre o A1 e A2.


A velha e forte barraca armada antes da chegada da noite.


A dica é: vá com tempo e acampe no A1, reserve o dia seguinte para descansar e se reabastecer de água na fonte que fica um pouco antes. Somente então siga para o A2, acampe novamente e no dia seguinte dê um "tiro" logo cedo pro cume.

Claro que fizemos tudo errado, pois era a nossa primeira vez lá. Descansamos de um dia pro outro entre o A1 e A2, deixamos a barraca montada e fizemos o ataque ao cume logo de madrugada (amanhece antes das 6h - verão). Nossa água acabou quando enfim começamos a escalar o PP especificamente. Desespero pois em cada parada nosso corpo (principalmente a boca que fica muito seca) implorava por água. A neblina tomava tudo e já não era possível ver muita coisa a nossa frente. Isso aumentava o perigo da atividade uma vez que os lances finais são rochas enormes e com fendas que cabem mais de uma pessoa dentro. É preciso passar esse obstáculo escalando e pulando-as.

Ao final a sensação de dever cumprido foi o que ficou pois a forte neblina não nos deixou ver nada a dois metros a nossa frente. Começamos a retornar, chamamos pelo nosso cão guia (que havia sumido e retornou meio que chorando) e a essa altura o desespero por água já tomava conta da nossa razão. Chegamos ao ponto em que estava a nossa barraca e a desmontamos de qualquer jeito, com pressa por encontrar alguma fonte de água e medo do mal tempo (a previsão de tempo para aquele dia era incerta e apontava chuva ocasional para aquela tarde).








As melhores fotos que conseguimos tirar no Pico Paraná. Fora isso tudo encoberto por nuvens que não lhe permitia ver além de 2 ou 3 metros a sua frente. Definitivamente o verão não é a melhor e mais segura temporada para se ir ao PP.


Rapidamente encontramos o A1 e a tão procurada fonte de água que fica logo depois dele. Bebemos muita água gelada (sim, ela chega gelada) e enchemos os nossos litros. Mais tranquilos fomos progredindo e exausto precisei parar para tirar um cochilo de 20 minutos. Acordei energizado e seguimos... quanto mais perto mais distante parecia que estávamos. Andávamos, escalávamos rocha, raízes, passávamos por fendas e nada de chegar. 

Esse final foi sofrido e quando alcançamos o carro, já no camping, nos atiramos na grama, tiramos os sapatos, meias e agradecemos pela volta. Depois fomos na cabana da fazenda para nos deliciarmos com coca-cola gelada e pastel (um verdadeiro luxo). Montamos barraca no camping, tiramos o sono dos justos e retornamos cedo no outro dia para PoA.





Chegada sofrida (principalmente para os nossos pés) mas recompensadora. Ao final até o nosso cão guia estava muito cansado.


Parecer final sobre essa aventura:

É uma experiência única e incrível. A montanha, embora pequena, entra no hall das montanhas mais difíceis que já fiz. 

Faça com calma, tempo, curtindo todo os momentos. Se não tem experiência em pernoitar em montanha, não a faça sem a cia de alguém já experiente e de preferência que conheça essa montanha.

No mais é isso amigos. Espero que essa descrição tenha sido válida. Abraço e até mais.

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