terça-feira, 7 de agosto de 2018

Minhas férias em El Chaltén (julho de 2018) - Parte 4

Bem, lá fomos nós três (eu e as duas irlandesas) fazer uma das trilhas mais famosas de El Chaltén: a Laguna de Los Tres. São 10 km de trilha (20 km ida e volta) e cerca de 4h com tempo bom (8h ida e volta com boas condições de tempo). O início da trilha fica bem perto do hostel que eu escolhi para ficar e o tempo no dia não estava nada bom, com muito vento, frio e algumas gotas de chuva esporádicas. Como as duas iriam embora logo, aquela seria a única possibilidade delas fazerem essa trilha e para mim seria uma experiência pois, certamente voltaria nela.

Saímos um pouco tarde (cerca de 10:30h) e tínhamos pouco tempo para tentar voltar ainda com a luz do sol. Logo no começo da trilha você se depara com um lindo mirante, o Mirador Cerro Torre, que te dá uma visão bem legal de um vale. Fui lá, tirei algumas fotos, fiz algumas filmagens e continuei. A medida que fomos avançando desse ponto encontramos a trilha coberta de gelo e sério, todo cuidado é pouco para não cair ali (o correto no inverno é usar grampões de gelo). Depois começamos a passar por alguns pontos onde havia uma forte ventania e o tempo estava terrível. Céus escuro, frio e muito, mas muito vento. 


Um pouco antes de chegar no Mirador Cerro Torre. Arvores retorcidas no chão e outras que rangiam ao vento... paisagem bem comum em alguns pontos da trilha.




Vista do Mirador Cerro Torre. Lindíssimo... muitos nem passam dali!!!

Chegamos ao mirante que tem uma bela vista para o Fitz Roy. Pena que o mau tempo não nos deixou ver a montanha, encobrindo a mesma com neblina e nuvens. Pouco depois desse ponto encontramos um chinês que estava voltando, havia desistido devido aos fortes ventos. Eu disse que iria continuar e as minha companheiras de trilha também iriam. Eu estava muito determinado a completar aquela trilha. 



 Mirante Fitz Roy. Nesse dia o mal tempo não ajudou muito.


Em alguns trechos o vento balançava as árvores, dando a sensação de que estava entortando-as. Era possível escutar elas rangindo. Cara, isso dava um puta medo!!! Porque em alguns pontos elas meio que abraçavam a trilha. A trilha é repleta de árvores secas, algumas mortas e há avisos por toda a parte falando do perigo de queda de alguma delas.

Chegamos ao acampamento Poincenot. Um acampamento gratuito, com uma boa estruturas e regras. No inverno é proibido acampar lá e aproveitamos todos para usar o banheiro (sim, lá no camping tem banheiro). Depois desse ponto a coisa começou a complicar. A medida que íamos nos aproximando do majestoso Fitz Roy, começava uma subida muito íngreme, com neve e o pior... a trilha estava completamente coberta por uma grossa camada de gelo. No começo da trilha você encontra gelo e consegue caminhar sobre ele sem cair, mas naquele ponto cara, não tente. Eu cai uma vez e não me machuquei muito. Apenas aquela sensação ruim de descer a trilha deslizando no gelo, o que consegui parar apenas com o uso de bastões. Mas como o meu óculos ficou no meio da trilha, no meio do gelo, lá fui eu tentar buscar. E aí caí muito feio sobre o meu ombro direito, batendo a cabeça no gelo. Uma das garotas, preocupada, perguntou se eu estava bem... respondi que sim e seguimos. Entretanto, o meu ombro doía muito, não conseguia mexer. Improvisei uma imobilização e evitei caminhar sobre o gelo ando por fora da trilha.





No caminho você se depara com paisagens incríveis. Sim, eu estive lá!!!

Depois de passarmos o mais difícil, você desce um lance e se depara com um pequeno lago congelado, com um precipício no seu lado esquerdo (de quem está indo no sentido para o Fitz Roy). Estava tudo bem até começar uma série de ventos fortes. Era preciso se abaixar para não ser levado. Sério, se você não se abaixasse, você era jogado no precipício, sem exagero rsss. 

A ventania ali era pontual. Acontecia em locais específicos e com intervalos parecidos. Eu expliquei isso para as meninas. Uma delas falou que era loucura arriscar a vida ali e que deveríamos voltar. Eu disse que iria tentar um pouco mais (estávamos muito próximos do fim da trilha), a sua amiga me seguiu nessa decisão e completou dizendo que se a sua colega quisesse poderia voltar. Claro que ela não iria querer voltar sozinha e seguiu conosco.


Após esse ponto a situação que já estava critica, ficou ainda pior!!! Confira o vídeo.


Fitz Roy é logo ali!!! Difícil desistir... pode não parecer, mas o vento ameaçava tirar a câmera da sua mão o tempo todo.

Adotamos a tática de correr sempre que a ventania parava e nos abaixar quando ela recomeçava, esperando parar novamente para continuarmos. Sem perceber fui me distanciando das duas e todo o entorno do Laguna de Los Tres estava coberto por neve, o que é um perigo. A neve encobre muitos buracos e fendas, aumentando o risco de uma queda. Como havia pisado em alguns pontos em que afundei até a cintura... escutei os gritos conselhos delas e tirei algumas fotos de longe mesmo. 




Nesse dia isso foi o mais próximo que cheguei de Laguna de Los Tres e do Fitz Roy. Valeu todo o esforço ;)

Quando decidi voltar começou uma tempestade de vento, com neve, areia, pedra e tudo que podia levar. Naquilo não conseguia ver muita coisa na minha frente e já não lembrava o caminho de volta. Sorte minha que as garotas não foram embora e começaram a gritar chamar o meu nome. Fui ao encontro delas e disse que eram os meus anjos, minhas salvadoras rsss... perguntei se elas lembravam o caminho (ali já não há mais marcação), uma delas me olhou cheia de orgulho e disse que sim S2.

Quando começamos a voltar encontramos uma equatoriana que quando viu o nosso estado (todos acabados) diante daquele tempo horrível, pediu para uma das garotas tirarem uma foto dela ali mesmo pois, não iria se arriscar naquele trecho terrível sozinha.

Registro feito, voltamos os quatro e assim que passei pela parte mais difícil, parei para comer algo (o meu corpo pedia por comida desesperadamente). A equatoriana se juntou a mim (as irlandesas já estavam lá na frente) e ela me deu um chocolate muito bom (segundo ela era o melhor do seu país) e eu cortei salame (falei que era o melhor do meu país também kkk) e dividi com ela (ela adorou). 

Continuamos a volta e as vezes as irlandesas nos esperavam, as vezes sumiam. Eu estava morto, com muita dor no ombro. Pra piorar cai mais umas 3 vezes por cima do mesmo ombro machucado (parecia até praga... aff).

Retornamos por volta das 18:40h. Comi alfajor, tomei leite, um banho quente e fui dormir... ainda com todas as lembranças daquela experiência incrível e certeza que voltaria... mas isso fica pra depois.


Essas duas foram as minhas companheiras de aventura nesse dia. Sei que eram duas Helen!!!


Confira no próximo post como foi o dia seguinte dessa aventura:
PARTE 5

http://amigodamontanha.blogspot.com/2018/08/minhas-ferias-em-el-chalten-julho-de_20.html

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RELEIA:


PARTE 1

PARTE 2

PARTE 3


CONFIRA O VÍDEO COMPLETO DESSA AVENTURA
(NÃO ESQUEÇA O LIKE)
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